Oi gente, tudo bem? Hoje eu trago um dos textos mais lindos que já apareceram por aqui. Rafaella Biasi é astróloga e autora junto com o seu marido Fabrício do documentário
“O SEGUNDO SOL”, aquele eu eu falei tantas e tantas vezes quando passei pelo caminho doloroso da perda gestacional lembram? Eu não sou capaz de encontrar as palavras certas para os agradecer pelo bem que me fizeram com esse trabalho tão lindo, e hoje ela nos conta sobre a dor, o amor, a paciência e nos ensina o quão forte somos capazes de ser. Confira:
Com amor, para Miguel
Esse texto é para falar sobre meu filho. Seria corriqueiro aqui no Maternidade Comum, não fosse pelo fato de que meu filho não está comigo. A maternagem que eu exerço ja faz 1 ano e 3 meses é diferente da sua que acompanha o blog. Meu filho nasceu sem vida. Mas esse texto não é sobre lamento e sim sobre o amor incondicional que ambas nutrimos por nossos filhos, com a diferença que o meu mora longe. O meu filho mora num lugar Sagrado chamado Memória. E hoje eu cuido dele dentro dos meus sonhos. A maternagem para mim é abstrata. Eu cuido com carinho das lembranças que tenho dele do tempo que ele estava aqui dentro de mim.
Lembro da camisa do Brasil de tamanho Extra G que usamos para caber nós dois e do 7 x 1 que levamos da Alemanha. Lembro dos chutes enquanto fazíamos nossas fotos juntos, do ensaio fotográfico que fizemos, tivemos que repetir as fotos porque ele não parava quieto. E teve também aquela vez que a avó do Miguel estava aqui em casa, todos esperando já para ele chegar e comemos um bolo delicioso de banana. Existe uma lista grande de coisas que fizemos juntos, eu e Miguel. Eu, ele e o pai dele. Eu, ele e a irmã dele. A irmã que ficou enciumada com os brinquedos que compramos só pra ele, e que hoje ele empresta todos para ela.
A gente costura memórias em nossa vida como um bordado brilhante e suntuoso para dar conta de conviver com a ausência. Meu filho, diferente do seu, nunca irá chamar meu nome, também não conhecerá o mar. Dessas coisas eu sinto uma pena infinita.
Quando eu e Fabrício montávamos o documentário O Segundo Sol eu sentia muito mal ainda pela ferida do Luto. Eu sentia terrivelmente a falta das lembranças que eu não teria com ele. Até que num dia de gravação, a Dani, que contou a história do Theo no filme, narrou algo novo pra mim, que eu não havia pensado ainda. Ela disse que um dia ela fez a lista de todas as coisas que ela não faria com o Theo, e que a lista era grande. Ela também ficou arrasada. Daí ela percebeu que existia essa lista mágica, a das coisas que ela havia feito com ele. Antes e também depois de sua partida, e que essas coisas eram muito maiores e mais preciosas que a primeira lista. E isso trouxe calma para um coração que nutria frustração e arrependimentos. E mais que isso, essa lista mágica nos proporciona um sentimento bonito de pertencimento, de que nossos filhos existem em nossa historia. De que nossos filhos existem no mundo.
Hoje, com o Segundo Sol eu posso também me dar esse luxo, de listar as coisas que Miguel nos trouxe antes e também depois de nossa despedida. Ele não conheceu o mar mas foi ele quem nos levou até lá esse ano, no Rio de Janeiro para a gente exibir o Segundo Sol e falar sobre o tema. Dei check nesse item da lista alguns dias atrás. Também é Miguel que proporciona encontros maravilhosos, amizades incríveis, e tudo isso porque ele está no nosso caminho de vida. Não há como desvencilhar minha vida da vida do Miguel. Meu filho celestial estará comigo sempre, até o dia derradeiro.
Parece utópico nao é? Mas é assim que eu convivo com sua partida prematura: colocando ele nesse lugarzinho aconchegante que é meu coração. Ensinando pra ele que o que conta mesmo é nossa capacidade de doação ao próximo, de empatia e de amor. A Cecília aprendeu muito com o irmão também, então posso arriscar que meu trabalho como mãe tem sido bom para ambos.
Acho que vai chegar um dia que exercerei de novo a maternagem da Terra, que estarei com o meu terceiro filho nos meus braços, cuidando e nutrindo ele, com carinhos palpáveis. Enquanto esse dia não vem eu treino. Vou treinando a aceitação e paciência que Miguel me ensinou enquanto está longe. Sei que com seu irmão ou irmã irei precisar dessas duas coisas. E precisamos, né?
Rafaella Biasi é astróloga e escreve para o seu alívio imediato. Achou que seria uma boa que todas as maes conhecessem o Miguel através do Segundo Sol para que ele também recebesse esse carinho de todos. Um carinho que vibra. Como diz Alice Ruiz: “O que importa o sentido, se tudo vibra?”