Quando eu era menino, vi minha mãe levar um tombo quando estava tendo alta no hospital. Fiquei apavorado e pedi que ela voltasse para cama. Minha mãe contemplou o meu pequeno rosto assustado e disse: “ As pessoas caem mas depois elas voltam a se levantar. A vida é assim.”
Sob muitos aspectos, as perdas são semelhantes às quedas...
Ninguém escapa de algum tipo de perda. No início, uma família pode se ver no caos devido a uma perda e parece se desestruturar. Mas o tempo recompõe de uma forma diferente e na maioria das vezes mais rica.
A cura da perda envolve muitos passos. Não se force a viver plenamente a dor da perda. Deixe que o processo se desenrole no seu ritmo. Viva a negação se for preciso. Não se censure e nem se importe com a censura dos outros, lembrando-se que você experimentará seus sentimentos na hora devida. Você descobrirá que a única maneira de escapar da dor é através da dor...
Ao observar as pessoas que têm uma doença incurável lidarem com a perda, percebo quase sempre o mesmo processo. No início, elas tiram muitas de si mesmas, como se dissessem: “Eu estive aqui.” Depois, à medida que a doença progride, elas param de tirar tantas fotos porque compreendem que o retrato não é garantia de permanência: no melhor dos casos, as imagens acabarão sendo passadas para gerações de pessoas que nunca se conheceram. Descobrem que o mais importa é o amor que existe nelas e naqueles que elas amam. Descobrem que é possível transcender parte da perda e aquilo que há de fundamental em si mesmas e naqueles que amam não é perdido. Podem até aprender que o que realmente importa é eterno e é nosso para sempre. O amor que você sentiu e o amor que você deu nunca é perdido.
Certa noite, bem tarde, eu estava no andar reservado aos pacientes de câncer de um hospital, visitando um dos meus. No corredor, conversei com uma enfermeira que estava arrasada porque acabara de perder um paciente. “Foi a sexta pessoa que vi morrer esta semana!”, queixou-se ela. “Não consigo mais suportar isso, não posso mais ficar olhando morte após morte. É como não tivesse fim. Não sei se um dia irá terminar”.
...delicadamente segurei a sua mão e seguimos em direção a outra ala do hospital. Fizemos uma curva e entramos na área da maternidade, onde a conduzi até a divisória de vidro que nos separava dos bebês recém-nascidos. Fiquei observando o seu rosto enquanto ela começava a contemplar todas aquelas novas vidas, assimilando a cena como se nunca tivesse presenciado antes.
“Para exercer melhor sua função”, disse eu, “ você precisa vir aqui com freqüência para se lembrar que a vida não contém apenas perdas.”
Mesmo dentro do nosso sentimento de perda mais profundo, sabemos que a vida continua. Apesar de todas as perdas que possam estar bombardeando você, novos inícios brotam por toda parte. No meio da dor, a perda pode parecer interminável, mas o ciclo da vida nos cerca por todos os lados. Essa enfermeira compreendeu que tinha encarado o seu trabalho apenas como uma perda. Ela se deu conta de que esquecera de que estava ajudando a concluir vidas que haviam iniciado muitos anos antes, exatamente como as do bebês do berçário.
“Os segredos da vida” de Elisabeth Kubler-Ross e David Kessler,Ed.Sextante
Sob muitos aspectos, as perdas são semelhantes às quedas...
Ninguém escapa de algum tipo de perda. No início, uma família pode se ver no caos devido a uma perda e parece se desestruturar. Mas o tempo recompõe de uma forma diferente e na maioria das vezes mais rica.
A cura da perda envolve muitos passos. Não se force a viver plenamente a dor da perda. Deixe que o processo se desenrole no seu ritmo. Viva a negação se for preciso. Não se censure e nem se importe com a censura dos outros, lembrando-se que você experimentará seus sentimentos na hora devida. Você descobrirá que a única maneira de escapar da dor é através da dor...
Ao observar as pessoas que têm uma doença incurável lidarem com a perda, percebo quase sempre o mesmo processo. No início, elas tiram muitas de si mesmas, como se dissessem: “Eu estive aqui.” Depois, à medida que a doença progride, elas param de tirar tantas fotos porque compreendem que o retrato não é garantia de permanência: no melhor dos casos, as imagens acabarão sendo passadas para gerações de pessoas que nunca se conheceram. Descobrem que o mais importa é o amor que existe nelas e naqueles que elas amam. Descobrem que é possível transcender parte da perda e aquilo que há de fundamental em si mesmas e naqueles que amam não é perdido. Podem até aprender que o que realmente importa é eterno e é nosso para sempre. O amor que você sentiu e o amor que você deu nunca é perdido.
Certa noite, bem tarde, eu estava no andar reservado aos pacientes de câncer de um hospital, visitando um dos meus. No corredor, conversei com uma enfermeira que estava arrasada porque acabara de perder um paciente. “Foi a sexta pessoa que vi morrer esta semana!”, queixou-se ela. “Não consigo mais suportar isso, não posso mais ficar olhando morte após morte. É como não tivesse fim. Não sei se um dia irá terminar”.
...delicadamente segurei a sua mão e seguimos em direção a outra ala do hospital. Fizemos uma curva e entramos na área da maternidade, onde a conduzi até a divisória de vidro que nos separava dos bebês recém-nascidos. Fiquei observando o seu rosto enquanto ela começava a contemplar todas aquelas novas vidas, assimilando a cena como se nunca tivesse presenciado antes.
“Para exercer melhor sua função”, disse eu, “ você precisa vir aqui com freqüência para se lembrar que a vida não contém apenas perdas.”
Mesmo dentro do nosso sentimento de perda mais profundo, sabemos que a vida continua. Apesar de todas as perdas que possam estar bombardeando você, novos inícios brotam por toda parte. No meio da dor, a perda pode parecer interminável, mas o ciclo da vida nos cerca por todos os lados. Essa enfermeira compreendeu que tinha encarado o seu trabalho apenas como uma perda. Ela se deu conta de que esquecera de que estava ajudando a concluir vidas que haviam iniciado muitos anos antes, exatamente como as do bebês do berçário.
“Os segredos da vida” de Elisabeth Kubler-Ross e David Kessler,Ed.Sextante